De Fabiano a Fabuloso, mais um campineiro na história da Copas

31/05/2010 - De Campinas para a África do Sul. Do campo esburacado de terra batida do Jardim Proença para os principais estádios do mundo. De "bad-boy" a bom moço. De desacreditado a maior esperança brasileira de gols na Copa do Mundo de 2010. De promessa da Ponte Preta à realidade do Sevilla, na Espanha. De Fabiano a Fabuloso. A trajetória de Luis Fabiano até se firmar como titular absoluto do ataque da seleção brasileira reúne ingredientes suficientes para formar um bom drama cinematográfico. O título do Mundial coroaria uma carreira repleta de percalços, mas também de muito sucesso. 

Quinto representante de Campinas em Mundiais, o atacante recoloca o nome na cidade na história da mais importante competição de futebol do planeta após 20 anos. Ao ser convocado pelo técnico Dunga, ele entrou para um grupo restrito de campineiros que estiveram em Copas. Antes dele, o ex-goleiro Barbosa (sacrificado injustamente pela perda do título da Copa de 1950), Brandãozinho, em 54, Amaral, em 78 e 82, e mais recentemente Silas, camisa 10 do Brasil na Copa do Mundo de 1990, representaram Campinas em Mundiais. 

A presença na África também o colocou em outra lista, ainda mais seleta e desafiadora: a de carregar a responsabilidade de vestir a camisa 9 do Brasil em uma Copa. Nada disso assusta o Fabuloso. Aos 28 anos, mais experiente e focado na carreira, ele está confiante para confirmar a fama de artilheiro, mesmo com uma recente contusão muscular. Se depender do retrospecto  com a amarelinha nos últimos anos, o caminho é favorável. Os números estão ao seu lado. 

Hoje soberano, Luis Fabiano começou a dominar o setor ofensivo da seleção justamente no momento em que pensava estar esquecido por Dunga, em novembro de 2007. Na convocação para o duelo contra o Uruguai, no Morumbi, ainda no primeiro turno das Eliminatórias Sul-Americanas, Luis Fabiano foi chamado para substituir o contestado Afonso Alves, cortado por contusão. 

Com dois gols em um dos seus palcos preferidos, comandou a vitória de virada, por 2 a 1, e a partir daí, passou a virar o jogo e assumir o controle da situação. Dois títulos – Copa América e Copa das Confederações -, artilharia da Copa das Confederações e 17 gols depois, o atacante é unanimidade. Ninguém faz sombra à altura do artilheiro. Ao todo, são 25 tentos em 33 partidas pela seleção, média de 0,75 gol por jogo. 

A mudança de comportamento dentro das quatro linhas também contribuiu para que o atacante conquistasse a confiança de Dunga e assumisse a condição de "homem gol" do Brasil. Nesse aspecto, o jogador valorizou a importância da família no processo de amadurecimento. Quando atuava pelo São Paulo, ele colecionou expulsões infantis e chegou a declarar que preferia "bater em argentino a cobrar pênalti", ao justificar uma voadora que deu na confusão entre atletas de São Paulo e River Plate, em 2003.

Mas agora a história é outra. A dedicação impera na postura do atacante em campo. E isso faz a diferença, principalmente com Dunga, que preza pela consciência coletiva. Em entrevista ao portal EPTV.Com, Luis Fabiano revelou a ansiedade pela estreia na Copa, contou um pouco de sua carreira e garantiu estar pronto para o desafio de balançar as redes adversárias rumo ao hexacampeonato. 

EPTV.Com - Você é mais um campineiro que vai participar de uma Copa do Mundo como jogador. Como se sente representando a cidade na competição de futebol mais importante do planeta? Dá para pensar nas suas origens quando entra em campo com uma responsabilidade tão grande como vestir a 9 da seleção brasileira?

Luis Fabiano - É uma responsabilidade muito grande representar a cidade de Campinas e o Brasil numa Copa do Mundo, mas ao mesmo tempo é uma sensação muito gostosa, já que desde garoto eu sempre sonhei com isso. Às vezes passa um filme na minha cabeça e lembro de quando eu jogava bola nas ruas do Jardim Proença com molecada. É muito legal ver que batalhei muito pra chegar até aqui e hoje estou no momento mais importante da minha carreira. 

EPTV.Com - Por falar em titularidade do time de Dunga, você começou a conquistar esse posto na vitória por 2 a 1 sobre o Uruguai, no Morumbi, onde você tem uma história muito bonita com a camisa do São Paulo. E, na oportunidade, a convocação surgiu após o corte de Afonso Alves. Tudo isso é destino? Ou você prefere pensar que é competência – e muita, diga-se de passagem – da sua parte? (confira ao lado com o clipe de gols do atacante nas Eliminatórias)

Luis Fabiano - Acho que é uma mistura de destino com muito suor, muita luta. A oportunidade surgiu quando eu não esperava, eu já achava que não teria mais oportunidades na seleção, apesar de viver um grande momento. Além disso, fui convocado por causa do corte de um companheiro e a grande maioria das pessoas não acreditava que eu pudesse me firmar. Quando recebi a chance de jogar aquele jogo, no Morumbi, sabia que eu teria que aproveitar aquela chance da melhor maneira. Felizmente deu tudo certo e eu tive o mesmo pensamento em cada jogo: aproveitar as oportunidades.

EPTV.Com - A camisa 9 lhe caiu bem. Sentiu alguma pressão em vesti-la ou para você, entrar em campo e jogar futebol é a mesma coisa com a camisa do Brasil, do São Paulo ou da Ponte Preta? Por falar em Ponte Preta, os torcedores da Macaca ainda alimentam a possibilidade de vê-lo atuando novamente pela alvinegra. Você chegou a dizer que, em um possível retorno ao Brasil, a preferência é do São Paulo, mas que depois poderia retornar à Ponte. Essa possibilidade realmente existe

Luis Fabiano - É claro que vestir a camisa da seleção é diferente, não dá para dizer que é igual a vestir a camisa de um clube, por maior que seja. Na seleção você está representando um país, a sua nação e por isso a pressão é muito maior. Mas eu já estou acostumado e me sinto à vontade com essa camisa. Tenho um carinho muito grande pela Ponte e hoje e gostaria de um dia voltar a jogar com essa camisa, mas ainda é cedo para falar nessa possibilidade.

EPTV.Com - A preparação para a Copa do Mundo não é envolve apenas a parte física e técnica. Um jogador também tem que estar com a cabeça tranquila. Como pretende ter o último contato com a família antes do "confinamento"? Você mudou bastante seu temperamento de uns tempos para cá. Acredita que isso tenha sido fundamental para chegar onde chegou agora?

Luis Fabiano - Vou ter pouco tempo com eles, mas quero curtir minha família o máximo que der antes de embarcar. Estou com a cabeça boa para esse período de concentração, pois sei que é necessário. A família sem dúvida foi fundamental para eu chegar até aqui. Como eu sempre digo, o nascimento das minhas filhas foi essencial para o meu amadurecimento.

EPTV.Com - Em Campinas, onde foram seus primeiros passos no futebol: campo de terra batida? E como é pisar nos principais gramados do mundo após batalhar tanto? O título da Copa do Mundo é o que falta para coroar sua carreira? Ou você quer ainda mais depois do Mundial? 

Luis Fabiano - Eu jogava bola na rua e também num campinho que fica numa praça, no Jardim Proença, que chamávamos de Buracanã, porque fica numa praça e o campo fica "dentro" do buraco. Depois, quando comecei a levar mais a sério, fui jogar no Alvorecer, que é um time amador tradicional da cidade. O título da Copa do Mundo seria o auge da minha carreira é um objetivo. Depois da Copa tenho outros objetivos, mas isso dependerá da definição do meu futuro.

 

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1 comentários

  1. o Luis Fabiano merece tudo isso, ele é um guerreiro.

    Pam oblog está lindo parabéns pelo trabalho, está tudo fantástico

    bejos

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