Luis Fabiano festeja fim de panelas e promete reagir a grito de pipoqueiro

Todos os sete gols marcados por Luis Fabiano nesta nova passagem pelo São Paulo foram comemorados com uma corrida em direção às arquibancadas, seguida por puxões, beijos e mordidas no símbolo, algumas vezes com os dedos indicadores apontando para o céu. O camisa 9 nunca mais repetiu o gesto de cruzar os punhos, símbolo da Torcida Tricolor Independente, que o chamou de pipoqueiro pouco antes de ele ser negociado, há quase oito anos.

O assunto não é evitado pelo centroavante. No início da tarde dessa segunda-feira, o jogador caminhou com seu andar desengonçado pelo gramado principal do Centro de Formação de Atletas Laudo Natel, em Cotia, até encontrar a reportagem da Gazeta Esportiva.Net. Completamente à vontade, sentou-se em uma mureta e transformou a entrevista exclusiva em um bate-papo no qual falou sobre tudo.

O atacante que se considera guerreiro avisou, por exemplo, que não aceitará mais passivamente um protesto como o de 2004. A mesma uniformizada que fez o ídolo deixar o Tricolor reclamando de perseguição tenta reconquistá-lo desde seu desembarque no Brasil, mas não parece ter sucesso na busca pelo perdão. Assim como alguns dos atletas recém-negociados.

Ainda sem um título expressivo pelo clube que adotou no coração, Luis Fabiano está mais confiante após perceber que pequenas 'panelas' foram desmontadas - Dagoberto, Xandão, Jean, Marlos, Carlinhos Paraíba e Rivaldo saíram - e que o elenco está mais unido neste início de 2012. A situação faz com que o camisa 9 se sinta mais em casa, a ponto de encarar com bom humor as provocações de Emerson Leão e até instigá-lo a ser irônico com o apelido de "Fabuloso". É o discurso de um jogador que custou R$ 17,5 milhões e passou sete meses em recuperação de cirurgia na coxa direita com um pensamento fixo: ser feliz de novo no Morumbi.

Gazeta Esportiva.Net: Em 2004, pouco após a eliminação na Libertadores, a torcida te chamou de pipoqueiro em clássico contra o Palmeiras, um de seus últimos jogos antes de ser negociado com o Porto, de Portugal. O que você faria se isso ocorresse novamente?
Luis Fabiano: Meu histórico não combina com atitudes como essa. Já passei por isso uma vez e um jogador que fez o que fiz no São Paulo não poderia ter sido crucificado da maneira que fui. Sinceramente, não aturaria outra vez. Não sei dizer o que faria, só na hora teria uma atitude, mas não vou aceitar esse tipo de coisa, não.

GE.Net: Você foi artilheiro da Libertadores e mesmo assim acabou como alvo da torcida. Ainda tenta achar uma explicação?
Luis Fabiano: Não tem. Sinceramente, não tem explicação. O São Paulo chegou à Libertadores depois de dez anos, fiz um grande esforço. Eu não ganhava sozinho, sempre dividia os méritos com os companheiros, mesmo que muitas vezes fizesse dois gols em um jogo. E também não perdia sozinho. Não sou zagueiro, não posso ir lá e defender. Não sei porque fui crucificado daquela maneira. Joguei muitas vezes machucado, nunca me escondi. Na maioria dos jogos importantes, fiz gol (começa a usar os dedos das mãos para enumerar seus feitos): nas duas finais do Paulista [de 2003, vencido pelo Corinthians], na final do Rio-São Paulo [de 2001, derrotando o Botafogo], na Libertadores [oito gols em 2004], tudo. Ser crucificado daquele jeito é coisa que não dá para entender, mas passado é passado. Espero que isso não se repita. Se acontecer de novo, não sei o que sou capaz de fazer, não.

GE.Net: Você pensou em não voltar por causa daquilo?
Luis Fabiano: No começo. Se o São Paulo fizesse uma proposta, na época do Porto [entre 2004 e 2005], pensaria muito antes de vir. Mas isso foi diluindo com o passar dos anos, meu amor pelo São Paulo é maior que esse episódio. Deixei para lá. Foram seis, sete ou oito torcedores. Na verdade, para fazer isso, não é torcedor. A maioria dos são-paulinos me apoia aonde vou. Já esqueci isso e resolvi voltar porque o amor que tenho é maior.

GE.Net: Você voltou e 45 mil pessoas foram ao Morumbi na sua apresentação. No elenco, só Rogério Ceni, que já está próximo de encerrar a carreira, é mais ídolo dos são-paulinos que você. Dá para substituí-lo?
Luis Fabiano: Não penso nesse tipo de coisa, em ser mais amado do que qualquer outro jogador aqui no São Paulo. O torcedor te adota como ídolo por suas atitudes e seu carisma. Não vou mudar nada para tentar ser a cara do São Paulo ou dizer que sou substituto do Rogério. Vou fazer meu trabalho em campo, ser quem sou e fazer as coisas com honestidade. Eles vão ver que estou aqui porque gosto do clube e vão me respeitar.

GE.Net: Você é um ídolo dentro do elenco, os jogadores gostam de você, puxam o coro de que "o Fabuloso voltou". Alguma vez precisou lembrar alguém que você é de carne e osso?
Luis Fabiano: Muitos garotos que subiram agora me viam jogar quando estavam na base. Quando cheguei, eles contavam histórias, diziam que assistiam e nunca imaginavam um dia poder jogar comigo. Acho que não houve espanto, eles já são bem crescidinhos para se espantarem com algum jogador. Outro dia, o Henrique foi para a festa da Fifa, tirou foto com o Messi e conversou com ele. Eles já estão acostumados a lidar com certas situações. Mas não escondem a felicidade de jogar junto, transmitem isso.

GE.Net: Alguém te tietou?
Luis Fabiano: O Lucas sempre vinha do lado para conversar. Eu estava machucado, não tinha muito contato com ele e estava sempre no Reffis, mas todos os dias ele ia lá para conversar e ouvir histórias.

GE.Net: Em campo, você jogou cerca de dois meses pelo São Paulo e marcou sete gols em 2011. Já dá para dizer que o Fabuloso voltou?
Luis Fabiano: Para mim, o Fabuloso voltou desde que cheguei. Infelizmente, não foi aquilo que eu esperava. Queria jogar, no máximo, depois de dois meses da minha apresentação, mas isso não aconteceu, tive que operar duas vezes e fiquei sete meses fora. Sempre acreditei em mim, sempre achei que, independentemente da lesão, voltaria a ser o jogador que todos conhecem. Joguei 12 partidas e marquei sete gols, uma média muito boa (0,583 gol por jogo). Depois da pré-temporada, vou dar sequência a esse trabalho.

GE.Net: Você estipula alguma meta de gols para 2012?
Luis Fabiano: Não quero ter meta de gols, quero que seja o ano do São Paulo e que o clube consiga conquistar os títulos que vai disputar. Esperamos que este ano seja melhor do que o ano passado, que foi difícil, duro, complicado.

GE.Net: Já percebeu alguma mudança em relação ao ano passado?
Luis Fabiano: Ainda é cedo para falar o que mudou, mas espero que a atitude e o comprometimento sejam diferentes. No ano passado, alguns jogadores, por alguns motivos, faziam o que queriam e ficavam com a cabeça em outro lugar. Espero que neste ano o comprometimento com o grupo e o clube seja total e a vontade também seja diferente, que demonstremos realmente que temos vontade de vestir esta camisa e que se forme um grupo competitivo e vencedor.

GE.Net: Você é bem entrosado com o grupo e conversa com todos...
Luis Fabiano: (interrompendo) Procuro estar com todos, não só com um jogador. Lógico que tenho amizade com o Fernandinho, por exemplo, e converso bastante com o Lucas também, mas me dou bem com todos. É importante estar unido, mostrar que não tem grupinho, que são todos amigos. Só assim podemos formar um grupo vencedor. Não adianta ter um grupinho aqui, outro ali e outro lá, como parecia que tinha no ano passado. Desse jeito não se vai a lugar nenhum.

GE.Net: A reformulação feita pelo São Paulo para esta temporada já começou a resolver o problema?
Luis Fabiano: Pela atitude nestas duas semanas de trabalho, acho que os jogadores que estão aqui têm outro pensamento. A pressão para que este ano seja melhor do que o ano passado é muito grande, mas vejo os jogadores mais aplicados, com mais vontade, pensando em conquistas. Temos grandes chances de lutar por títulos. Se continuarmos com essa vontade até o final, seremos competitivos.

GE.Net: Quanto o Leão contribui para isso?
Luis Fabiano: Ele cobra muito, pega muito no pé e é disciplinador. O jogador sabe que, se fizer corpo mole, não vai jogar com ele. O começo dessa mudança de atitude se deve ao treinador.

GE.Net: Ele costuma brincar e ironiza bastante o apelido de "Fabuloso". Você chegou a estranhar e achar que estava pegando demais no seu pé?
Luis Fabiano: Não preciso disso para me motivar, entro em campo motivado por mim mesmo. Mas ele gosta de me desafiar (risos). Às vezes, eu o instigo, fazendo brincadeiras com os companheiros, porque sei que ele vai rebater se eu falar alguma coisa. Levo na boa.

GE.Net: Não mexe nem um pouco com sua motivação?
Luis Fabiano: Quando o treinador dá uma cutucada, às vezes você quer mostrar para ele que está errado. Mas, pela minha idade, já não me deixo levar.

GE.Net: Na semana passada, o Leão contou que estava no Reffis e você entrou cantando que "o Fabuloso voltou". Ele diz que brincou e fez a segunda voz, dizendo "eu ainda não vi". Qual é a sua versão da história?
Luis Fabiano: Na verdade, o Wellington começou a cantar a música da torcida. Olhei, vi o pé do Leão e sabia que ele faria alguma coisa, então cheguei na porta e gritei: "o Fabuloso voltou!". Aí ele me chamou e falou que ia fazer o coro dele: "eu ainda não vi" (risos). Para mim, é indiferente. Acho que ele estava no mundo da lua no dia da minha apresentação. Se ele não viu que o Fabuloso voltou, não vai ver mais. É importante ter essa animação no vestiário, esse bom ambiente. Levo tudo na brincadeira e entendo também como uma cutucada (risos). Mas não tenho mais nada para provar a ninguém.

GE.Net: Você foi o camisa 9 da Seleção com o Dunga e não é aproveitado pelo Mano Menezes. Ainda pensa em voltar?
Luis Fabiano: Tenho vontade de jogar na Seleção, mas não é uma obsessão. Não penso que vou voltar se for bem no Paulista. Se tiver que acontecer, vai ser naturalmente, passo a passo. Nunca fui chamado pelo Mano, não o conheço, não sei se ainda pensa em fazer experimentos ou se conta só com os jogadores que está acostumado a convocar. Deixo acontecer. Vou tentar voltar ao meu nível no Paulista, no Brasileiro, na Sul-americana, fazer os gols e depois, se pintar a oportunidade, é outra coisa. Aí vou com tudo para tentar agarrar. Se não, seja o que Deus quiser.

GE.Net: Você era unanimidade antes da Copa do Mundo e não foi mais chamado depois da eliminação. A reformulação feita pelo Mano Menezes foi prejudicial ou a concorrência aumentou?
Luis Fabiano: A marca da eliminação na Copa pesa muito, no começo foi assim, tanto que ninguém foi chamado. A pressão por reformulação também pesou muito, mas quem disputou a Copa não pode ter virado um jogador... (pensa e abre um sorriso, como se contivesse um palavrão) fraco de uma hora para a outra. Era necessário um pouquinho de calma. Mas acho que isso não vai pesar durante este ano. Jogadores que disputaram a Copa já voltaram, como o Lúcio e o Dani Alves. O Júlio César está voltando aos poucos, o Kaká foi chamado e infelizmente não pôde jogar... É ter paciência e tentar fazer o melhor no São Paulo. Se pintar, pintou. Se não pintar, vou estar aí batendo palma e torcendo.

GE.Net: O São Paulo acertou com o Jadson, que era rei na Ucrânia. Você, que já foi considerado rei em Sevilha...
Luis Fabiano: (interrompendo, abrindo um sorriso) Bons tempos, bons tempos...

GE.Net: O que você tem a falar para alguém que foi rei na Europa e está chegando ao São Paulo?
Luis Fabiano: A mudança é meio brusca, de trabalho, de ambiente. Mas ele está voltando para um grande clube, todos de braços abertos para a chegada do meia. Acho que vai se enquadrar rapidamente, sem problema. A pressão é grande, são três anos sem título, a expectativa por esse meia no São Paulo também é grande, mas cabe a ele chegar preparado para isso. Acredito muito nele. Nunca joguei com o Jadson, só contra e já o eliminei algumas vezes (risos)... Ele tem condição de fazer um bom ano. Se der certo, todos ganham.

GE.Net: O São Paulo já contratou um meia, agora diz que espera um atacante velocista para jogar ao seu lado. Se pedissem para você indicar um nome, qual seria?
Luis Fabiano: Não sei... Hoje? Ah, podia ser o Messi, né? (risos) Confio muito no Lucas, no Fernandinho, nosso estilo se enquadra bem. Não vejo um cara tão diferente dos que estão aqui, vejo muita qualidade neles. Fernandinho e Lucas têm totais condições de jogar, sem problemas.

GE.Net: Qual foi o seu melhor parceiro de ataque na carreira?
Luis Fabiano: Kanouté. Sem desmerecer ninguém, porque tive Reinaldo, que me ajudou muito, cheguei a jogar com o França também, o Kaká, que era meia e me conhecia 100% dentro do campo. Mas, por tudo o que conquistamos juntos, o Kanouté do Sevilla é um parceiro que não dá para esquecer. Foram seis anos, muitas conquistas. No começo, existia uma negativa por jogarmos juntos, mas nos entrosamos bem.

GE.Net: Voltando ao São Paulo, sua ideia é encerrar a carreira no clube?
Luis Fabiano: Gostaria de jogar por mais um tempo aqui e encerrar na Ponte Preta, ir lá de passagem e agradecer tudo o que a Ponte Preta fez por mim, é o time que me lançou no futebol. Mas quero passar vários anos no São Paulo, minha ideia é essa. Tenho mais três anos de contrato e espero que consiga ficar por muito mais tempo.

GE.Net: Tem ideia de idade para parar?
Luis Fabiano: Com 36, não quero jogar mais. Jogaria mais quatro anos aqui e um na Ponte. Não quero ficar me arrastando. Se eu estiver em um nível bom, posso continuar, mas minha ideia é parar com 36.

GE.Net: E as suas duas filhas já vão estar grandes...
Luis Fabiano: É verdade. Elas estão passando o primeiro ano no Brasil, ainda estão se adaptando. Não tive muito tempo para curtir com elas e, depois dos 33, já vão estar grandes. Quero ter esse tempo para elas.

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Saudações Fabianistas*

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