Papo de Copa: sem medo de pressão, Fabuloso confia ter ganhado a torcida

07/05/2010 - Parecia obra do destino. Titular pela primeira vez da seleção brasileira desde a Copa América de 2004, Luis Fabiano pisava no gramado do Morumbi pressionado. Era uma noite diferente para o Brasil, que, apesar do título sobre a Argentina há quatro meses, enfrentava um Uruguai aguerrido no 21 de novembro de 2007. Sem sucesso nas apostas com Afonso Alves e Vagner Love, Dunga continuava à procura de um camisa nove. Mudou de ideia em menos de 90 minutos.

Em um palco de muitas comemorações, Fabuloso relembrou os tempos de São Paulo e fez os dois na vitória de virada, por 2 a 1. A ótima fase seguiu acompanhando o atacante do Sevilla nos anos seguintes, que se firmou entre triunfos sobre Portugal, Itália e Argentina como titular incontestável para a Copa do Mundo na África do Sul mesmo com forte concorrência na posição e desconfiança da torcida.

– É uma pressão muito grande vestir a nove da seleção. Muitos estão a favor, outros contra. Você não tem 100% de apoio. Mas realmente por tudo o que fiz nesses três anos a maioria acredita em mim. E sinto isso quando estou no Brasil e recebo o carinho e apoio do povo nas ruas – disse.



Em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM durante 25 descontraídos minutos, Luis Fabiano abriu o jogo a pouco mais de um mês do seu primeiro Mundial. Em pauta, entre outros assuntos, a sua antiga e já ultrapassada fama de bad boy, a real possibilidade de deixar o Sevilla, onde já está na história, a responsabilidade de chegar à África com o número nove nas costas, as lembranças de outras Copas, e as lesões que assustam e afastam jogadores renomados às vésperas da competição. Com a personalidade que lhe é peculiar, ele diz que chegará voando e pronto para resolver em campo. Que assim seja...
Confira abaixo a entrevista completa:

GLOBOESPORTE.COM: O Renato Gaúcho deu uma entrevista ao jornal O GLOBO há duas semanas lamentando a falta daquele jogador que foge da mesmice nos comentários. Você costuma ser esse cara. Concorda com o Renato?

LUIS FABIANO: Acho que no momento as coisas não estão para se falar muita coisa, e sim resolver dentro de campo. No passado existia muito jogador polêmico, o torcedor se acostumou com isso, e hoje deu uma diminuída, mas acho que cada um tem sua personalidade. Ultimamente os jogadores estão mais tranquilos. O Renato Gaúcho é um personagem. Não o conheço pessoalmente, mas dizem que ele é muito boa pessoa, um cara alegre. E está meio que acostumado com a irreverência.

Você já teve problemas pela sua antiga fama de bad boy em campo? Como fez para contornar isso? “Entre brigar e bater o pênalti, prefiro ajudar os companheiros na briga”, disse em 2003.

Com o tempo. Essas coisas acontecem quando você não tem experiência, é jovem... Realmente era bem polêmico dentro de campo. Um cara meio explosivo, em momentos raros, mas é isso que faz você aprender muitas coisas. Estou com 29 anos, e passei por muitas coisas. Hoje já sei contornar, sei como lidar certas situações. O cara quando ele quer mudar, com a ajuda e com a força de vontade acaba mudando. Foi o que aconteceu comigo. Não queria ter esse rótulo de bad boy ate porque fora de campo não combinava comigo. Era um jogador estourado, e aí eu dei um basta. Com o tempo fui mudando. Quando nascem filhos é um momento mais bonito na vida de um pai, você acaba pensando duas vezes antes de fazer besteira, tem mais responsabilidade, e deve passar bons exemplos também para a família e filhos.

Você entrou na história do clube recentemente (92 gols, ultrapassando o crota Davor Suker e se tornando o quinto maior goleador), mas o Sevilla segue ameaçado de ficar de fora da Liga dos Campeões. E já dizem que você não fica para a próxima temporada, pois o seu contrato está acabando e não querem deixar de ganhar dinheiro. Chegou a hora de tentar dar voos mais altos?

Não comemorei muito, pois estava desanimado e triste pela derrota (o Sevilla perdeu para o Getafe por 4 a 3). Era oportunidade de se firmar na quarta colocação, a posição que nos dá o direito a uma vaga na Champions, e acabamos perdendo. Apesar de ter feito dois gols, fiquei mais p. do que feliz.
Sinceramente, eu no momento não penso muito em saída. Mas realmente hoje o Sevilla está pensando em me vender, até porque eles sabem que acaba o meu contrato no ano que vem. Acho que esses próximos meses vão ser fundamentais para o meu futuro. Existe muita possibilidade de sair, e acho que dependendo de como serão os próximos meses, a Copa do Mundo... As chances podem chegar a 100%.

A camisa 9 da seleção brasileira é das mais prestigiadas. E é difícil ver alguém chegar ao Mundial tão preparado e com moral como você. Em 2006, Ronaldo chegou acima do peso e não rendeu tudo o que poderia. Em 2002, o mesmo Ronaldo vinha sob desconfiança após nova operação. Vale muito pelo orgulho de vestir a amarelinha? E é mesmo o emprego mais difícil do mundo, como disse em uma propaganda?

É uma pressão muito grande vestir a 9 da seleção. Muitos estão a favor, outros contra. Você não tem 100% de apoio. Mas realmente por tudo o que fiz nesses três anos a maioria acredita em mim. E sinto isso quando estou no Brasil e recebo o carinho e apoio do povo nas ruas, o que é muito importante. Procuro sempre levar as coisas boas e deixar as ruins de lado. Estou muito feliz e o povo brasileiro está confiando em mim. Isso serve mais como um estímulo e motivação a mais. Estou bastante confiante. Espero poder corresponder a tudo isso e representar bem.

Até porque será sua primeira Copa...

Exatamante. Disputar a Copa pelo Brasil deve ser a maior alegria do jogador. Só que também a maior pressão de todas as seleções. O Brasil sempre entra pra ganhar, é experiência que nunca tive, mas sou praticamente um veterano com a camisa da seleção. Tenho muitos jogos, e já sei o que representa para o povo brasileiro, sei como é pressão... Apesar de não ter disputado, convivi com grupos na seleção de 2002, que foi campeã, depois fiquei um tempo sem ir agora estou voltando. Depois de três anos quebrando tabus, vencendo Copa das Confederações, Copa América... Posso dizer que é um grupo que chega preparado, apesar de toda a pressão.

E o Adriano? Acha que ele pode ter perdido espaço com as últimas confusões?

Pela filosofia de trabalho, acredito que o Adriano vá para a Copa, pois todas as vezes que ele foi correspondeu. É um grande jogador e tem provado isso. Vendo assim pelo que eu participei, acho que não tem nenhum problema. Mas aí é o treinador que sempre decide. Nunca se sabe o que vai acontecer. Mas o Adriano é um cara de grupo, e na seleção sempre se comportou bem. Eu não vejo qualquer tipo de problema.

Alguns jogadores, como o Rooney, Fernando Torres e Iniesta, estão pagando pela temporada cheia de jogos e sofrendo lesões. Já o Kaká fez o caminho oposto: voltou a jogar em cima da Copa do Mundo. E você, com 28 jogos, como chega para fisicamente para o Mundial?

Eu sinceramente estou muito bem. Tive uma lesão há dois, três meses que me deixou de fora algum tempo, mas estou me sentindo bem, voltando à minha forma ideal e jogando bem no Sevilla. Tenho tudo para chegar voando, bem, 100% e sem alguma dor. Esse é o meu objetivo.

Já há alguma brincadeira com Romaric e Zokora, seus companheiros de clube que enfrentarão você na Copa? Apostaram algo?

Está rolando sim. Apesar de estarmos no fim da temporada, com muitos jogos importantes, de vez em quando eles brincam. Dizem que a Costa do Marfim nos vencerá por 3 a 0, que vão passar também por Portugal. Eles estão empolgados achando que vão ser os primeiros e fazer a festa. Mas, no fundo, sei que estão com medo, tanto que às vezes já falam um placar de 4 a 0 para nós. Na verdade é mais respeito, pois sabem que a parada vai ser dura. E jogar contra o Brasil é mesmo. Já tive essa sensação no centenário do Sevilla e é muito ruim.

Para você, a Espanha é o pior adversário que a seleção pode encontrar? É ter atenção total na fase de grupos para não ter de enfrentá-los logo nas oitavas?

Acho que a seleção espanhola vive um momento muito bom, é uma das grandes favoritas, mas o Brasil é Brasil e não escolhe adversário. Se tiver que ser campeão vai ter que enfrentar qualquer um e ganhar. O nosso jogo mais importante é o segundo (contra a Costa do Marfim). Lógico que o primeiro é tem seu valor, mas eles vão nos dar trabalho. Se ganhar, estaremos praticamente classificados.

Fale dos outros favoritos...

A Itália, sempre cito a Itália, que joga naquele estilo “fecha a casinha e ninguém entra”. Depois vem a Argentina, porque o Messi está arrebentando. Ele faz uma diferença danada. Se der tudo certo, acho que o Brasil tem o melhor momento. Mas, em se tratando de Copa do Mundo, nunca vamos ter 100% de acerto. Sempre uma seleção se sobressai, chega até o fim, uma surpresa africana... Acontece tudo.

Quais lembranças você tem das Copas? Quando criança, adolescente, jogador...

Tenho lembrança especial de 1994. Romário, de quem sou fã, e na final aquela tensão nos pênaltis... Depois em 1998 lembro bem e foi aquela tristeza. Depois, 2002 foi só alegria, apesar de os jogos serem na madrugada ou muito cedo. E já era jogador, não tinha mais aquela sensação de torcedor, de estar vendo tudo. Como treinava, não queria acordar. Mas sempre ligado e torcendo pela seleção porque tinha amigos lá. E em 2006 também foi uma tristeza perder para a França. Em época de Copa fica toda uma expectativa no país.

Você recentemente posou de modelo na Itália, tem feito muitas propagandas. Tem curtido esse lado diferente que o futebol proporciona?

É algo que eu não estava acostumado, apesar de ter feito desde a época do São Paulo algumas propagandas. Mas com frequência eu não esperava. Agora posso dizer que já estou calejado. É legal esse lado. Fugir um pouco do lado de só futebol e ser um pouquinho modelo, mostrar minha carinha e o lado simpático. Não sou nada vaidoso, me visto às vezes todo feio, com uma coisa que não combina com a outra... Sou um quebrador da moda. Quando minha mulher me vê saindo de casa assim eu já fui.

Saudações Fabianistas*

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