Volta do Fabuloso marca tendência?

15/03/2011 - Luiz Zanin - O Estado de S.Paulo

A volta de Luís Fabiano pode ser sinal de que alguma coisa está mudando. Ou pode ser apenas um caso isolado. O tempo dirá, leitor, se me permite o uso dessa frase, que é a maneira mais simples de se livrar de uma pergunta impossível de ser respondida.

O fato é que Luís Fabiano, ao contrário da grande maioria dos boleiros patrícios, volta não para "encerrar a carreira no clube do coração", como alguns gostam de dizer, de maneira sentimental. Ou porque tenha problemas pessoais. Volta por cima, no ponto alto de sua trajetória e com muitos anos de atividade pela frente. Deixa a estupenda cidade de Sevilha (ah, o cheiro das suas laranjeiras em flor, que lembranças me traz...) para retornar ao clube que o projetou e depois o vendeu.

Independentemente de qual seja o nosso time, devemos saudar a volta do Fabuloso. Ele por certo vai fortalecer demais o São Paulo, mas, da mesma forma, tornará também mais forte o futebol paulista e, por extensão, o brasileiro. Não são muitos (aliás, são muito poucos) os atacantes disponíveis no mercado com a sua qualidade.

Com Luís Fabiano, e outros como ele, os clubes brasileiros poderão apresentar um produto futebolístico melhor para vender. Tanto no estádio quanto na televisão. Isso tem importância particular nesta época de imbróglio da comercialização dos direitos para a transmissão do futebol nas diferentes mídias. Seria chover no molhado dizer que, quanto melhor o nível do futebol que puderem apresentar, mais bem posicionados estarão os clubes para exigir remuneração adequada pelo espetáculo. É chegado, portanto, o momento de exigir contrapartida das emissoras interessadas. Show com artista de primeira grandeza custa caro. Artista de primeira linha, no futebol, é o craque. E ponto.

Mas a volta de Luís Fabiano será um caso isolado? Se for, não produzirá qualquer efeito duradouro, pois, como diz o povo, uma andorinha só não faz verão. Mas será que esse retorno do centroavante são-paulino não é sintoma de um processo maior e mais complexo, do qual fazem parte, também, a volta de Ronaldinho Gaúcho e a permanência por mais tempo no Brasil de jogadores como Neymar, Ganso e da jovem promessa são-paulina, Lucas?

E qual seria esse processo maior? Ora, o Brasil como um todo está mudando para melhor e, com ele, estaria mudando o próprio futebol brasileiro. Com uma economia mais forte, a 7.ª do mundo, talvez a tendência seja o futebol se organizar melhor por aqui, até chegar a redefinir sua posição dentro da estrutura do futebol mundial. Todo mundo sabe que, até aqui, ocupamos posição subalterna e vergonhosa de vendedores de craques (e até de não tão craques assim) aos diversos mercados dos quatro cantos do mundo. Talvez haja indícios de que esta situação esteja começando, aos poucos, a se alterar.

Também é claro que nada muda de uma hora para outra. Existe uma inércia, uma mentalidade já sedimentada na cabeça dos boleiros, suas famílias e empresários, de que é preciso sair o quanto antes do Brasil. Mentalidades, sabemos, demoram mais a mudar do que as condições econômicas. Mas, por exemplo, Neymar adiou a sua saída do Santos quanto tinha tudo pronto para ir ao Chelsea. Esse caso também pode ser sintoma, desde que não seja fato isolado e comece a se repetir em outros clubes.

De qualquer forma, parece haver um movimento geral que abala a nossa péssima (des)organização clubística, tirando-a do marasmo. Para não serem engolidos por um processo maior do que eles, os cartolas terão de se modernizar. Quem não entender que o futebol mudou e que, para ser administrado, precisa de cabeças antenadas na modernidade, vai dançar, e de maneira irremediável. Acabará expelido do processo, para não sucatear o clube que dirige. 


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